Escolhas
Quando se veem rios por planícies, certo é que suas águas presentes não hão de cessar — a isso não se denota presente...
verbo em Latim que significa "caminhar adiante" (origem de "preâmbulo")
A arte é a arte. Penso que a tautologia ("amor é amor", "uma árvore é uma árvore"...) pode dar conta do significado que eu gostaria de tanger com o que pretendo aqui, e representa bem minha admiração pela redundância: pleonasmos, perfazer (quase) sempre o caminho mais longo, prolixidade, a demora.sentimentos de mundo e amplidão como o mar, as montanhas enormes com ovelhas pequeninas. ou desassossego, com uma estátua que deixou de ser.
buscar tais sentimentos é essencial. não creio isso uma tarefa de sentimentalismo per se, por mais que o soe, mas podemos fazê-la sim intento de viver a profundidade de realidades que vimos ou ainda não vimos, como quadros nos representam e transmitem. poder perceber outras realidades trazidas à tona por textos e quadros (a semiótica abre o buraco de que quadros também são textos, enfim) é exercício de contemplação, de demora, de paciência, de tempo. dificilmente, ou impossivelmente, há percepção da beleza de algo sem contemplação, sem demora, sem paciência, sem tempo.
e eis um dos poemas a mim mais bonitos sobre os desdesígnios da arte, claro, de Manoel.
Aqui estão contos e textos em formato não usual (ensaios), por vezes bastante curtos, mas que condensam alguma reflexão central que pode falar ao coração. Ao menos, cada uma fala ao meu significados profundos e, por isso, ponho-os aqui para dividir, repartir.
Alguns textos são marcados como Declaração. Estes são altamente pessoais, de múltiplos tipos e escritos, essencialmente, para Deus. Fazem parte de uma obra chamada Declaração, um dos diademas de tudo o que já escrevi.
Quando se veem rios por planícies, certo é que suas águas presentes não hão de cessar — a isso não se denota presente...
Maiores e mais profundas prisões são as que o coração impõe ao próprio coração.
Tudo havia ficado em silêncio há dias, e ninguém intentava pronunciar nada além daquilo que fosse necessário à sobrevivência...
Pelo que seja o ar como parábola, e a terra como movimento no qual se dancem coisas antigas, mas não esquecidas...
Por caótico e adversos que sonhos possam cintilar, expressam o que jaz interior: nós mesmos. De um dia para o outro...
— Ora, caminhar sob as areias da orla do mar é singular. É como olhar aos azuis infinitos, deixando que por pouco ande meio-coberto pela areia, que pode parecer tão parca com relação ao mar...
As formigas sempre foram fiéis. Logo após o nascer do sol, as duas, por mais um dia, arrumaram todas as suas coisas para a longa caminhada...
A vozinha de Rute, ao menos Rutinha aos mais afáveis à alma, sempre se admirava de sua capacidade de encanto, e encanto não com certa cousa em especial, mas com qualquer uma...
Mas vi pessoas divagando, anunciando dizeres contra o nome do Senhor, as quais pretendiam raciocinar que a ideia de Deus existir proviria da fraqueza e necessidade humanas de completude, (...)
Por estas bandas, não se pronunciam coisas inexistentes: quer felicidades extraordinárias, quer fontes; quer oásis arrebatadores, quer sonhos. O Sol...
Recordações de coisas que existiam fazem-nas persistir, e então existir. Em um dia comum, pus-me a visitar certo amigo a quem não via há muito...
Os poemas, aqui, não têm uma linha temática única entre si e são, essencialmente, distribuídos de forma tão aleatória quanto a que os nossos pensamentos podem ter em nossa cabeça a cada dia. É preciso temperança para interpretar poemas — eu mesmo provavelmente desconheço os significados completos de todos os que escrevi.
Mas o choro que não é meu / O deserto a que não fui / Tanto me toca / Como se meu fosse / Minh’alma não se pode isentar / Minh’alma está a falar:...
No princípio te elegi / Como a mais bela gota / D'água sobre a rota rota...
Numa oração, ocorre-me finalmente que Deus é como o mar. / É como o infinito para tudo o que medimos; não há métricas...
escrever me mantém vivo, / ler me mantém vivo, / linguagem me mantém vivo...
em um mundo de / vendem-se maçãs...
Ao não se enxergar claramente / Atribuem-se quaisquer a quaisquer / Que, por sua vez, inculpados...
Parece impossível que se desate / O que não mais muda / A realidade afeta...
Muitos quereres / Constituem-me o coração / Em muitos viveres / Minha negligência e adoração...
Passado e futuro / Tolhem o presente / Que de todos é o único / Tempo que nós temos...
Um dia me assaltou uma indignação imensa contra o zeitgeist sobre o sexo na sociedade, contra a superficialidade com que se firmam e desfazem relações interpessoais (especialmente entre os mais jovens), enfim. Transcrevi-o de uma forma pouco (ou muito) sarcástica e alegórica, na tentativa de palpar isso que paira na mente de muitos.
LerReflexão também pessoal, também bíblica em torno da grande e muitas vezes silenciosa tempestade chamada solidão. Ela pode nos levar a naufragar quando de navegarmos sozinhos por muito tempo, mas há um porto seguro no qual podemos fixar nossos olhos. Que porto é esse, afinal?
LerCrônica escrita em meio à pandemia, próximo ao seu fim em 2021, para o jornal de estudantes da USP Ócios de Ofício. Sobre desabandono, catarse e cair-em-si a partir de uma vida em que muito se existe para pouco se viver, digamos, nos termos de Sêneca.
LerRegistro de um dia com crianças de uma comunidade local e amigos da ABU, trabalhando para nos alegrarmos naquela manhã junto com elas, em 2023.
LerReflexão escrita num dia aleatório, sem ocasiões sobre-especiais, sobre os rios-sufocados que nos cercam e que, possivelmente, estão mesmo dentro de nós.
LerSome texts I have written in English, only because it feels lighter and easier sometimes to gather thoughts and words through the Anglo-Saxon semiology.
That cloudy, freezing cold day, the rabbit came lazily into his wooden house in a clumsy, semi-frozen fashion, the filthy fur, the snow covering up to the ankles and the hollow belly. He carried in a pouch some wrinkled berries, a medium frozen carrot, and some dried leaves that might once have been mint. It was again...
Within most people, there is a shared feeling about how differently kids are growing up nowadays. We think of what used to be a rule during childhood for a happier life: fresh-air activities like riding a bicycle...
Thinking about Easter, nowadays, unfortunately leads the majority of us to think of chocolate, plus all capitalist marketing of uncountable "Easter" products (bunny, eggs, candies, etc.). All of that is completely superficial and indeed delusional...
Esta parte, de fato, não tem utilidade alguma, e que bom. Os quadros a seguir foram postos por mim à esperança de que outros vissem da beleza que carreiam, desde as pinceladas ligeiras impressionistas de Monet até interpretações do que foi a criação do universo e do que é o pôr do sol.
O vestido de baile (Interior com menina costurando)
Giovanni Boldini
O Canal (1845)
Joseph Mallord William Turner
Pôr do sol (Caernarfon, País de Gales, 1899)
George Elbert Burr
O universo é criado (1894)
Paul Gauguin